Sessenta e cinco moradores do Rio, que podem ter tido contato direto com fluidos e secreções do empresário sul-africano Willian Charles Erasmus, 53 anos, estão sendo monitorados por exames clínicos e laboratoriais, de acordo com o Ministério da Saúde. Erasmus morreu na manhã de terça-feita com febre hemorrágica provocada por um vírus ainda desconhecido. Ontem, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirmou que, cerca de 15 dias antes de chegar ao Rio, onde desembarcou no dia 23, o paciente passou por cirurgia ortopédica no mesmo hospital em Johanesburgo, na África do Sul, onde quatro pessoas morreram infectadas por arenavírus. “Seria esse o vínculo epidemiológico, e por isso suspeitamos que essa tenha sido a causa de sua morte, embora o resultado dos exames preliminares só fique pronto dentro de 3 a 4 dias”, disse o epidemiologista da Fiocruz José Cerbino Neto. Ainda de acordo com Cerbino, um paciente vindo da Zâmbia teria morrido neste hospital e contaminado uma faxineira e três profissionais de saúde. Apenas uma enfermeira sobreviveu. De acordo com o Ministério da Saúde, o empresário sul-africano chegou no Brasil dia 23, e 48 horas depois teve os primeiros sintomas da doença, como febre e vômito. Após três dias, foi atendido na emergência do Hospital Barra D’Or e internado na Casa de Saúde São José, onde morreu. O grupo de 65 pessoas monitoradas é composto por profissionais de saúde dos dois locais; funcionários de um hotel onde o empresário ficou hospedado; e o pessoal de uma empresa de consultoria de energia elétrica onde Erasmus participou de uma palestra.
Essas pessoas podem ter tido algum contato com sangue, muco, urina, fezes, vômito, saliva ou suor do sul-africano. Elas estão sendo submetidas a verificação de temperatura duas vezes por dia. Segundo nota do Ministério, também será observada a ocorrência de outros sintomas, como dor de cabeça, diarréia, vômitos, pele amarelada, calafrios e dores de garganta.
Segundo o Ministério da Saúde, não é recomendada a realização de quarentena, pois o contágio acontece apenas após o aparecimento dos sintomas — o período de incubação varia de sete a 16 dias. O Ministério reforça que avaliação preliminar descartou as possibilidades de dengue, malária e ebola. Já o infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro Edimilson Migowski diverge da posição oficial e afirma que a adoção da quarentena seria uma medida prudente. Migowski acredita que pode haver risco de transmissão do arenavírus antes do aparecimento dos sintomas, como acontece com outras viroses. Ele também cogitou a possibilidade de haver casos de pessoas infectadas e assintomáticas, que poderiam propagar a infecção. “Os arenavírus são pouco conhecidos no Brasil e nos Estados Unidos, ainda mais um tipo desconhecido. Acho que as pessoas que tiveram contato com o sul-africano deveriam estar sendo mantidas, preventivamente, em quarentena. Devido à alta letalidade e à pouca experiência com esse vírus, acredito que não seria um erro pecar por excesso”, disse.Ontem, o ministério afirmou em nota que o paciente só teve febre alta dia 27, depois de chegar ao Brasil. E que, por isso, está descartado o monitoramento dos passageiros que estavam nos mesmos vôos — de Johannesburgo para São Paulo, dia 22, e de São Paulo para o Rio, dia 23.
O corpo do empresário foi removido no final da noite de ontem para o crematório do Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária. Apesar de a Secretaria Estadual de Saúde ter divulgado que adotaria esquema especial para a remoção do corpo, que seria feita por bombeiros de unidade especializada em cargas perigosas, o caixão de zinco lacrado foi levado por um carro funerário comum da Santa Casa de Misericórdia e deixou a Casa de Saúde São José, no Humaitá, pela porta dos fundos. A decisão de cremar o corpo do empresário “por medida de saúde pública” só foi definida às 20h, após reunião entre técnicos do Ministério da Saúde e das secretarias estadual e municipal de Saúde, além de representantes da Casa de Saúde São José. A Fiocruz — que está realizando três exames para identificar o vírus — afirmou que não há motivo para pânico. E descartou possibilidade de epidemia. “Temos 16 casos na literatura internacional de arenavírus fora da África, todos de pessoas que vinham do continente. Em nenhum deles houve transmissão inter-humana”, disse Cerbino Neto.
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