"Quereis ser médico, meu filho? Esta é a aspiração de uma alma generosa, de um espírito ávido de ciência.
Tens pensado bem no que há de ser a tua vida?"

- Esculápio -

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Hiperatividade

O termo que caiu na boca do povo é apenas uma faceta do Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade, ou simplesmente, TDAH.
Causas
Há muitas especulações sobre as causas do problema, mas hoje sabe-se que há um forte componente genético na doença. Tanto que filhos de pais com o transtorno têm mais chances de nascer com o problema. Estudos feitos a partir de tomografias mostram que há uma diminuição do fluxo sangüíneo na parte da frente do cérebro dessas pessoas, especificamente no córtex cerebral direito. Com o aporte de glicose reduzido, a região funciona em marcha lenta. Outros trabalhos mostram uma queda nos neurotransmissores dessa área, principalmente a dopamina - que justamente está relacionada às funções de atenção, impulsividade e atividade física e mental. Outras causas, como traumatismos no nascimento, exposição a drogas durante a gravidez e a desestruturação familiar, ainda precisam ser melhor investigadas.
Consequências
É fato: desde cedo as crianças que padecem do déficit de atenção recebem vários rótulos nada amigáveis. São os "avoados", "pestinhas", "burros", só para ficar com alguns exemplos. Sem um diagnóstico e um bom tratamento, essa pecha vai acompanhar a vítima pela vida toda. O abalo na auto-estima e na auto-imagem é enorme. A pessoa fica cada vez mais insegura e enfrenta dificuldades nos relacionamentos, nos estudos e no trabalho. Pesquisas mostram que esses pacientes têm mais tendência a desenvolver outros problemas, como ansiedade, depressão, transtorno do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo e dependência de drogas.
Diagnóstico
O termo que caiu na boca do povo é apenas uma faceta do chamado Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, o TDAH ou, como preferem alguns especialistas, simplesmente DDA. Isso mesmo: o traço essencial dessa doença que atinge de 3% a 5% das crianças são as alterações na atenção - e não aquela típica hiperatividade. A inquietação física e a impulsividade, as outras duas características do problema, podem aparecer ou não nesses pequenos. O comportamento da pá virada é mais comum nos meninos e acomete cerca de metade desses pacientes. Aliás, ele nada mais é do que um reflexo da agitação mental, povoada de pensamentos acelerados - justamente o que está por trás da falta de concentração. Já nas meninas, o traço mais marcante é a desatenção. Essas pequenas pacientes parecem viver no mundo da lua e costumam ser mais rotuladas de avoadas.
A principal ferramenta para a avaliação desses pacientes é a observação clínica e o histórico. O profissional deve estar muito bem treinado para captar sutilezas e nuances do comportamento da criança e detectar fatos que possam caracterizar o distúrbio. Mas, além dos critérios técnicos, ele deve ter muita sensibilidade para descobrir se esse é apenas o jeito de ser da criança ou se há outros problemas que podem estar motivando um comportamento mais agitado. Também é possível lançar mão dos exames de neuroimagem, como a tomografia, para complementar o exame clínico e excluir outros distúrbios.
Tratamento
O tratamento inclui remédios que estimulam as substâncias em desequilíbrio no cérebro a trabalhar melhor. Isso melhora a concentração, ajuda a organizar as idéias e a moderar a impulsividade. Há inclusive medicamentos de ação prolongada que facilitam o controle dos sintomas. Além das drogas, a psicoterapia é fundamental. Nesses casos, a chamada cognitivo-comportamental dá os melhores resultados. Nela o psicólogo funciona como um treinador que, com técnicas específicas, ajuda o paciente a agir e pensar. Também podem entrar em cena outros profissionais, como psicopedagogos e fonoaudiólogos. A duração do tratamento vai depender das características de cada paciente. Mas atenção: a doença não tem cura e, sem controle, 70% dos pacientes convivem com o sintomas a vida toda.
Atitudes que ajudam
Com pequenas atitudes, os pais podem ajudar - e muito - o filho com déficit de atenção. Em primeiríssimo lugar, a família não deve se culpar pelo problema nem comparar a criança com outras bem-comportadas. A casa precisa de organização, sem estímulos que roubem a atenção desses pequenos, como excessos na decoração. É fundamental estabelecer uma rotina com horários para brincar, estudar e dormir. A escola também tem papel fundamental para evitar rótulos e preconceitos. Uma das dicas aos professores, por exemplo, é repetir as instruções ao hiperativo, pois ele precisa de reforços para manter a atenção. Aqui vão algumas dicas:
• coloque o relógio para despertar quinze minutos antes. Isso evita atropelos na hora de acordar
• anote em um quadro as tarefas do dia e os horários para que ele possa se organizar melhor
• recompense-o sempre que conseguir cumprir seus compromissos
• dê uma ordem de cada vez e certifique-se que ele esteja prestando atenção
• observe quanto tempo ele suporta ficar sentado. Esgotado esse prazo, permita que ele estique as pernas, caminhando um pouco
• entre uma tarefa e outra, não deixe que ele se distraia com brinquedos ou TV
• estimule jogos com regras. Assim ele vai perceber que é preciso respeitá-las e pode usar esse aprendizado em outras situações
• não entulhe o quarto e a casa com brinquedos e objetos, que podem atrapalhar ainda mais o precário senso de organização
Hiperativo ou pestinha?
Logo de cara não é fácil distinguir o que está por trás do comportamento estabanado. Afinal, os três principais sintomas do DDA - distração, impulsividade e hiperatividade - são típicos da infância. Mas em comparação com crianças da mesma faixa etária tudo neles está exacerbado. As características abaixo não servem para diagnosticar o distúrbio, mas devem chamar a atenção dos pais:
• com freqüência mexe ou sacode pés e mãos, remexe-se no assento, levanta-se da carteira
• é facilmente distraída por estímulos externos
• tem dificuldade de esperar sua vez em brincadeiras ou em situações de grupo
• com freqüência dispara respostas para perguntas que ainda não foram completadas
• tem dificuldade em seguir instruções e ordens• tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou mesmo atividades lúdicas
• freqüentemente muda de uma atividade inacabada para outra
• tem dificuldade em brincar em silêncio ou tranqüilamente
• às vezes fala excessivamente
• vive perdendo itens necessários para tarefas ou atividades escolares
DDA em adultos
Até pouco tempo atrás acreditava-se que a doença era problema de criança e que sumia com o passar do tempo. Infelizmente a coisa não é bem assim: quem nasce com DDA carrega o distúrbio pelo resto da vida. Mas foi só em 1980 que a Associação Psiquiátrica Americana reconheceu oficialmente o mal em gente grande também. Por isso ainda há muito preconceito e erros no diagnóstico desses pacientes. Os adultos que padecem de DDA costumam ter dificuldades de organização, não conseguem planejar direito as atividades do dia-a-dia, largam tarefas pela metade e, por isso, se sentem constantemente sobrecarregados. Essas características, que na realidade surgem lá na infância, levam a conflitos em casa e no trabalho.

2 comentários:

Yoann Pérès disse...

haaaaa... o Dr. Léo vai gostar desse artigo...

Eliezer disse...

Verdade... Brincadeiras à parte, é realmente importante conhecer e reconhecer as facetas desses transtornos. Para quem passa 4h por dia com crianças - os professores - é imprescindível que as com TDAH sejam bem avaliadas e controladas!