"Quereis ser médico, meu filho? Esta é a aspiração de uma alma generosa, de um espírito ávido de ciência.
Tens pensado bem no que há de ser a tua vida?"

- Esculápio -

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Misto de alcoolismo e anorexia, 'drunkorexia' afeta mais as mulheres

Os transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, por si só já são motivos de preocupação, principalmente entre as mulheres, as mais afetadas. No Dia Nacional da Saúde, comemorado hoje, 5 de agosto, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) faz um alerta: seus portadores ou pessoas mais propensas a desenvolvê-los consomem bebidas alcoólicas em maior quantidade e frequência. Essa ligação será um dos temas abordados na próxima novela global, Viver a Vida, de Manoel Carlos. Na trama, a atriz Bárbara Paz terá drunkorexia, caracterizado por substituir refeições por álcool.
De acordo com a Associação Brasileira de Transtornos Alimentares, uma pesquisa feita pelo Programa da Mulher Dependente Química verificou que mais da metade das dependentes de álcool ou de drogas que estavam em tratamento tinham algum tipo de transtorno alimentar. Mas, afinal, qual é o motivo dessa relação? " Algumas pessoas fazem uso abusivo do álcool e de outras substâncias, como anfetamina e cocaína, para inibir o apetite. Outras bebem com o intuito de lidar melhor com os problemas. Com o tempo, podem se tornar alcoólatras, se a quantidade e a frequência aumentam", disse a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, coordenadora do Cisa e uma das responsáveis pela revisão literária de 15 artigos científicos, publicados entre os anos de 2002 e 2009, sobre a coexistência de transtornos alimentares e a ingestão de bebidas alcoólicas.
Os dados colhidos pela médica mostram que, na Europa, especialmente na Espanha, Áustria e Eslovênia, a prevalência do uso de álcool é maior entre portadores de transtornos alimentares (34,1%) em relação à população saudável (26,9%). O consumo excessivo de álcool e o alcoolismo são identificados em 16% dos pacientes. Um estudo canadense realizado com mais de 9 mil mulheres observou que a chance de se tornar alcoólatra entre os 50 e 64 anos é seis vezes maior em quem tem sintomas de transtorno alimentar. O Brasil ainda não conta com números sobre o assunto. Entre os tipos de transtornos alimentares, a bulimia nervosa está mais ligada ao álcool (acontece em 16% dos casos). "Isso porque as bulímicas têm atitudes compulsivas. Podem comer e beber muito e, depois, tomar atitudes compensatórias, como passar horas fazendo exercícios, provocar vômito, usar laxantes. As anorexas, por sua vez, adotam posturas mais restritivas." O segundo lugar do ranking (14%) fica com a anorexia nervosa purgativa e os transtornos alimentares sem outra especificação.
A coordenadora do Cisa disse que de 3% a 4% das mulheres brasileiras têm transtornos alimentares. "A mulher está mais disposta aos transtornos ansiosos em geral, excetuando a fobia social. Parecem ter preocupação maior em relação à estética do que os homens, além de sofrerem as variações hormonais." Adolescentes e jovens formam o grupo mais atingido. Não há uma causa determinada para desenvolvê-los. É o resultado de um conjunto de fatores, como predisposição genética, obsessão por seguir padrões, dificuldades afetivas. Entre os mais comuns estão a anorexia (quando restringe a quantidade de alimentos por se achar gordo ou ter medo de engordar, sendo que já está bem abaixo do peso ideal), a bulimia (compulsão alimentar seguida por indução de vômito, uso de diuréticos ou de laxantes) e o comer compulsivo (ingestão de grande quantidade alimento em curtos espaços de tempo). A psiquiatra Camila disse que não há cura, porque existe a possibilidade de recaídas. O tratamento consiste em aliar remédios, terapia e mudança nutricional.
De forma geral, as brasileiras estão bebendo mais, como constatou uma pesquisa realizada pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas, do Ministério da Saúde, divulgada no mês de abril. O índice de consumo abusivo de álcool (mais de quatro doses) por pessoas do sexo feminino em 2008 é de 10,5%, contra 9,3% de 2007 e 8,1% de 2006. A situação é mais complexa do que parece porque as mulheres tendem a desenvolver a dependência mais rapidamente que o homem. Além disso, sentem mais o efeito do álcool. "O organismo feminino tem uma menor quantidade de água e mais tecido adiposo. Assim, há um aumento na concentração de álcool no organismo. Para elas, três copos de chope equivalem a quase cinco em um homem", disse a psiquiatra Analice Gigliotti, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead). A ingestão excessiva de bebidas pode levar ao alcoolismo, uma doença também sem cura caracterizada pela perda de controle, prejuízos no cotidiano por conta do hábito, desejo compulsivo pela bebida e maior tolerância a ela. "O tratamento ideal combina terapia para evitar os gatilhos que fazem a pessoa beber, medicação para diminuir a compulsão e a síndrome de abstinência, além de conversar com a família para que possa ajudar o paciente. O alcoólatra não pode beber de forma alguma", disse Analice.
Fonte: Terra Saúde

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