"Quereis ser médico, meu filho? Esta é a aspiração de uma alma generosa, de um espírito ávido de ciência.
Tens pensado bem no que há de ser a tua vida?"

- Esculápio -

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cigarro no cinema

No filme Sem Fôlego (Blue in the Face, 1995), misto de ficção e documentário sobre o dia a dia num bairro de Nova York, um dos personagens olha diretamente para a câmera e comenta que se tornou fumante por causa do cinema. Nos grandes clássicos de Hollywood, sempre pairava uma nuvem de fumaça entre o mocinho e a mocinha. Depois do sexo ou do tiroteio, era obrigatório acender um cigarro e, junto a baforadas espessas e elegantes, lançar “bobiças filosóficas” à cara do espectador.
— Hoje está tudo diferente — reclama o personagem. — As pessoas pararam de fumar no cinema.
Aí é que todos nos enganamos. Embora pareça que atores e atrizes de porte tenham deixado de fumar na telona, a grande verdade é que xepas e isqueiros permanecem mais presentes do que nunca. Segundo estudo publicado nos Estados Unidos, 60% dos filmes lançados em 2008 contêm cenas de tabagismo. A maioria dessas produções — eis um dado interessante — é destinada ao público adolescente. E a Marlboro é a marca campeã em termos de visualização cinematográfica.
Cito esses dados apenas para confirmar uma suspeita: embora as aparências estejam de roupa nova, no fundo as coisas mudaram menos do que desejaram os nossos pais. Ainda que higienizada — e por isso mais eficiente — a mídia sempre dá um jeitinho de fazer o seu comercial. Apesar das leis e das cruzadas antitabagistas, os números mostram que as pessoas continuam queimando dinheiro para encher e esvaziar seus pulmões de fumaça.
Qual o motivo dessa “resistência”? Não arrisco um palpite muito seguro, mas talvez tenhamos a necessidade natural de desobedecer àquilo que identificamos como hipocrisia. Qual o problema de aparecer um cigarrinho num filme em que os personagens cafungam carreiras e mais carreiras de cocaína? Quantos tiros são disparados, quantas cabeças são cortadas, quantas serras elétricas entram em ação? E queremos implicar logo com o glamour da nicotina?
Mas uma coisa de fato mudou com o passar dos anos. Se é verdade que o cigarro permaneceu apesar de tudo, pelo menos as “bobiças filosóficas” depois do sexo e dos tiroteios diminuíram. Nisso lucramos.
Maicon Tenfen - colunista JSC

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