Um belo dia você, influenciado pelo papo do vendedor, compra um decanter. Ou ganha um. Sabe do que se trata, né? Aquele jarro de cristal (os mais sofisticados) ou de vidro que fica lindo nas prateleiras das lojas e às vezes chega em casa na forma de presente.
Diante do objeto vem a pergunta. O que eu faço com isso? Há dois padrões de resposta:
O clássico
O decanter serve para arejar o vinho, amaciar os taninos e dar uma mãozinha no despertar dos aromas. A forma, bojuda na base e com um pescoço em forma de ampulheta na superfície, permite que o oxigênio faça a sua mágica. Como quase ninguém deixa a bebida descansar na taça, e já parte direto para o ataque, o decanter faz este trabalho, para a benção dos ansiosos e sedentos. Os tintos mais concentrados, e antigos, ganham em profundidade e persistência. Até mesmo aqueles de safras recentes, elaborados para serem bebidos jovens, podem modificar um pouco nos aromas. Para os rótulos mais longevos é um utensílio que ajuda a separar as borras e sedimentos naturais da bebida. Ao despejar o precioso líquido no interior do jarro, estes elementos sobram depositados no fundo da garrafa. A etiqueta e as enciclopédias do vinho recomendam um ritual para a separação das borras que exige um candelabro, uma vela acesa e certa destreza. Muito bacana. Mas no mundo real, você já viu alguém conduzindo este processo fora das fotos dos livros?
O popular
É um objeto em busca de uma utilidade. Pouca gente usa um decanter em casa. Exige um planejamento, um ritual, que dificulta seu uso. E o ritual de desarrolhar o vinho na frente dos convidados, exibir o rótulo e derramar o néctar direto do gargalo para a taça é irresistível! Mas é um presente bárbaro, não? Existem modelos dos mais variados formatos e preços. Certa vez, numa degustação com o senhor Riedel – o homem que reinventou as taças de vinho -, os caldos eram servidos em um decanter de pescoço alongado – parecia um ganso - que o somellier manuseava como uma destreza de malabarista. Todos ficaram admirados e, como se tratava de uma degustação séria, suspeitou-se que o formato transferia algum aroma especial ao vinho. Perguntado o que a forma trazia de vantagens, Riedel respondeu: “É só design, é mais bonito”.
Mil e uma utilidades
Para quem não sabe o que fazer com o decanter que está mofando no armário, aqui vão algumas sugestões que os enófilos sem senso de humor podem considerar uma heresia:
1 use como um belo vaso para flores (ver sugestão na foto de abertura, bacana, não?);
1 use como um belo vaso para flores (ver sugestão na foto de abertura, bacana, não?);
2 enfeite a cristaleira, principalmente se tiver um jogo variado. Vários modelos lado a lado fazem uma boa presença;
3 use a imaginação e transforme o decanter em um suporte para aqueles desenhos de areia colorida: a arte em garrafas;
4 desafie o amigo "entendido" de vinho. Funciona assim. Despeje um tinto argentino meia-boca na jarra e coloque ao lado uma garrafa de um rótulo mais caro e badalado. Sirva-o e observe a reação do sujeito. Aposto que será divertido.
Fonte: Roberto Gerosa - Blog do Vinho
Um comentário:
Depois que passamos a apreciar e decodificar as sensações que um bom vinho nos causa, passamos a ver o velho e bom decanter somente de forma clássica, e jamais ousaríamos usa-lo como um objeto de mil e uma utilidades. Agradeço ao meu marido por me fazer entender os mistérios de não apenas degustar...
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