Fazer exames
periódicos para a prevenção do câncer de próstata pode não trazer benefício
algum. É o que afirma a mais nova recomendação da Força Tarefa para Serviços
Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF, sigla para United States Preventive
Services Task Force), um órgão do governo americano formado por um grupo
independente de especialistas em saúde preventiva. Em artigo publicado no
periódico Annals of Internal Medicine,
a USPSTF afirma que os prejuízos da triagem, independentemente da idade do
homem, são maiores do que os seus reais benefícios.
Em sua última recomendação, publicada em
2008, os pesquisadores da Força Tarefa haviam concluído que não havia
evidências que apoiassem a triagem para homens acima dos 75 anos de idade. Um
painel independente de especialistas revisou, no entanto, as evidências usadas
à época e concluiu que os danos da triagem com o antígeno específico de
próstata (PSA) são maiores do que os
benefícios. Na avaliação, foi levada em consideração apenas danos e benefícios
à saúde, mas não custos.
Prejuízos – Nos dois grandes
testes usados pela Força Tarefa, os homens eram assintomáticos. O primeiro,
conduzido nos Estados Unidos, não demonstrou redução alguma na mortalidade pelo
câncer como um resultado da triagem. O segundo, feito em sete países europeus,
descobriu uma redução de cerca de uma morte para cada 1.000 homens – em um
subgrupo de homens com idades entre 55 e 69 anos. Os resultados, no entanto,
foram evidentes apenas em dois países. Nos outros cinco, não houve uma redução
significativa nas mortes.
Segundo a USPSTF, fortes evidências mostram
que a triagem está associada a danos significativos. Aproximadamente 90% dos
homens que tiveram a doença detectada pela triagem passaram por tratamentos
precoces com cirurgia, radiação ou terapia de privação de hormônios masculinos.
Algumas evidências apontam, no entanto, que mais de cinco em 1.000 homens
morrem cerca de um mês após a cirurgia para o câncer. Entre 10 e 70 sobrevivem,
mas sofrerão ao longo da vida de efeitos colaterais, como incontinência
urinária e disfunção erétil e intestinal.
Conclusão precipitada — De acordo com William
J. Catalona, diretor médico da Fundação para Pesquisa Urológica e autor de um
editorial que acompanha a pesquisa, a recomendação da Força Tarefa tem
subestimado os benefícios e superestimado os danos da triagem. Ele e seus
coautores argumentam que a Força Tarefa – cujo painel não inclui urologistas ou
especialistas em câncer – baseia sua recomendação em estudos. Além disso, as
recomendações focam apenas na mortalidade e não levam em consideração a
dificuldade em se viver com um câncer avançado.
De acordo com Otis W. Brawley, diretor da
Sociedade Americana de Câncer e autor de um segundo comentário que acompanha a
publicação, o diagnóstico em demasia faz a triagem parecer salvar vidas quando
ela verdadeiramente não o faz. Isso porque muitos homens são diagnosticados com
câncer de próstata que poderia nunca progredir. Mas como são tratados, eles
pensam que a triagem salvou suas vidas. "Muitas pessoas têm uma fé cega na
detecção precoce do câncer", diz Brawley.
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