Há duas semanas, uma jovem apresentou sintomas de inchaço e dor após manter relações sexuais com um soldado americano, que havia recebido recentemente a vacina para imunização contra a varíola. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a mulher foi contaminada pelo vírus vaccinia, utilizado na elaboração de vacinas contra a varíola. Este é um dos cinco casos conhecidos nos últimos 12 meses de mulheres que se infectaram com o vírus da varíola através do contato sexual com um membro do Exército, conforme o Relatório de Morbidade e Mortalidade divulgado pelo CDC.
A jovem americana, que não teve seu nome divulgado, procurou tratamento médico ao perceber um inchaço vaginal doloroso, em forma de anel. Depois de receber antibiótico, ela retornou ao atendimento de emergência reclamando de dor, uma nova inflamação e inchaço. O diagnóstico só foi confirmado por um especialista em doenças infecciosas. Segundo o relatório do CDC, a transmissão ocorreu porque o soldado do exército americano removeu o curativo que protegia o local.
A varíola é antiga. “Era uma doença que comprometia todo o corpo da pessoa, órgãos internos e era exteriorizada na pele, com um grande número de erupções que deixavam cicatriz”, diz João Silva de Mendonça, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia. A varíola matou faraós, contaminou presidentes americanos (George Washington e Abraham Lincoln contraíram a doença), ditadores soviéticos (Stálin foi contaminado na infância e ficou com o rosto marcado pelas terríveis pústulas que se formam. Suas fotos passavam por retoques para esconder as cicatrizes) e permaneceu fazendo vítimas até a década de 1970, quando a Organização Mundial de Saúde promoveu um intenso esforço para erradicar a doença.
Mas o fim da varíola só foi possível por que outro vírus, o vaccinia, foi descoberto em 1796, pelo médico inglês Edward Jenner. Ele percebeu que pessoas infectadas com o vírus da varíola bovina – um tipo mais leve da doença, causado pelo vaccinia – não desenvolviam a varíola humana. Amplamente aplicada na população do mundo inteiro até o fim da década de 70, a vacina é capaz de proteger as pessoas contra infecção da varíola, que pode ser letal.
Em geral, a infecção pelo vírus vaccinia é branda e assintomática. Entre as possíveis reações, estão erupção cutânea e febre. Complicações como a que ocorreu com a jovem são mais comuns em pessoas com o sistema imunológico comprometido.
No caso da varíola, havia a possibilidade de infecção de duas formas: a causada pelo Variola major, com 30% de letalidade, e pela Variola minor, que causava menos de 1% de casos letais, Entre os principais sintomas preliminares da doença estavam febre, mal-estar, dor de cabeça e dores no corpo. Na forma mais violenta e conhecida da varíola, as pessoas apresentavam erupções em todo o corpo.
Com o passar do tempo e a difusão da vacina, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou finalmente a doença como extinta, em 1979. A partir disso, foi solicitado que todos os laboratórios do mundo destruíssem os acervos com amostra de vírus. Atualmente, apenas o CDC e o Instituto Vector, na Rússia, possuem amostras do vírus. As duas únicas amostras quase foram destruídas em 1986, 1993 e 1995, mas em 2002 a OMS chegou à conclusão de que seria melhor manter amostras do vírus para realizar pesquisas e, se fosse o caso, criar vacinas. “Depois dos ataques de 11 de setembro, os Estados Unidos começaram a vacinar seus soldados contra a varíola para prevenir a utilização da doença como arma biológica”, explica Tânia Fernandes, historiadora da Fundação Oswaldo Cruz.
De acordo com Fernandes, a varíola foi a primeira doença para a qual se criou uma vacina e foi a única a ser erradicada. “Houve uma tentativa com a malária e com a paralisia infantil. No primeiro caso, não conseguiram erradicar o mosquito, no segundo, é uma doença que ainda está em erradicação”, afirma Fernandes.
Fonte: VEJA Saúde
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