Se o medidor acusa que ela não está alta pra valer, apenas ultrapassou ligeiramente os limites considerados seguros, saiba que esse estágio limítrofe foi batizado por especialistas americanos de pré-hipertensão. E é a sua grande oportunidade de prevenir a doença propriamente dita e poupar o organismo. Não dá pra negligenciar o alarme e esperar que a pressão arterial suba de vez, provocando toda sorte de estrago nos vasos sanguíneos e no coração. E tamanha é a importância de atentar para esse estágio preliminar do problema que a discussão ganhou espaço na respeitada revista científica americana New England Journal of Medicine. Em um artigo recém-publicado ali, o pesquisador Aram Chobanian, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, alerta que a porcentagem de pré-hipertensos na terra do Tio Sam já supera os 30%. Isso quer dizer que a medida da pressão dessa gente se encontra na faixa entre os desejáveis 12 por 8 e os 14 por 9, o limite a partir do qual a pessoa é considerada hipertensa.
“Todos esses indivíduos pré-hipertensos já correm um risco significativamente maior de sucumbir aos males cardiovasculares”, ressalta Chobanian, em entrevista à SAÚDE!. “De fato, a cada 20 miligramas de mercúrio adicionais na pressão máxima, chamada de sistólica, e 10 na mínima, a diastólica, a probabilidade de alguém ter um infarto ou derrame dobra”, confirma o nefrologista Décio Mion Junior, do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista.
Embora os especialistas brasileiros ainda não tenham adotado a classificação americana, eles concordam que, se a pressão passou dos valores ideais, é necessário tomar providências precocemente, em vez de cruzar os braços, achando que talvez ela nunca alcance o limiar perigoso. A probabilidade de isso acontecer é grande em quem apresenta o aumento discreto. “Estudos mostram que, em 31% dos casos, a pré-hipertensão evolui para a enfermidade em si”, confirma o cardiologista Rui Póvoa, da Universidade Federal de São Paulo. É uma proporção alta. Não dá para brincar.
E quanto mais longo for o período de exposição a esse estágio prévio, mais difícil é retomar as rédeas da situação. “Quando as artérias são pressionadas além do que deveriam, elas sofrem alterações em sua função e em sua estrutura, o que prejudica toda a circulação”, explica o nefrologista Celso Amodeo, do Hospital do Coração, em São Paulo. “Aí é mesmo difícil reverter os estragos.” Ou seja, deve-se encarar essa fase como um sinal amarelo — o corpo está em desequilíbrio. E claro: mudar o estilo de vida para driblar esse gol contra.
Se nem a hipertensão em si costuma ter sintomas, imagine como é difícil flagrar a pré-hipertensão. É por isso que, em consultas de rotina, medir a pressão é indispensável, principalmente para quem é filho de hipertensos. “Se um dos pais tem a doença, a probabilidade de a pressão ser alta é de 50%”, justifica Rui Póvoa. Uma vez diagnosticada a chateação, o jeito é mudar tudo na rotina que favorece o quadro nefasto. Quem fuma deve abolir o cigarro. “Além de agredir os vasos, o tabagismo estimula a ação do sistema simpático, elevando a pressão”, lembra o nefrologista Pedro Chocair, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Outro costume nada benéfico é abusar do álcool. “Há evidências de que, em doses modestas, ele até dilataria as artérias. Mas, em excesso, promove sua contração”, revela Marcus Malachias.
A obesidade é outro perigo, especialmente quando concentrada na barriga. “Substâncias nocivas, como a interleucina- 6, são produzidas nas células de gordura dessa região. Elas não só desequilibram o endotélio, comprimindo os vasos, como também estimulam a retenção de sal e líquido”, afirma o cardiologista Otavio Gebara, autor do livro Coração de Mulher, lançado por SAÚDE!. A solução é comer direito e fazer atividade física para emagrecer.
A alimentação, aliás, é um dos quesitos mais importantes quando a meta é derrubar a pressão. “Como a pré-hipertensão está relacionada a uma maior sensibilidade ao sódio, economizar em alimentos salgados é essencial”, diz Celso Amodeo. “Para atingir esse objetivo, evite ingerir produtos industrializados, principalmente os queijos, enlatados e embutidos”, ensina. Em contrapartida, o potássio é bem-vindo ao cardápio porque facilitaria a excreção de sódio. Portanto, a banana e o espinafre são ótimos aliados.
Se você é sedentário, não tem acordo: é preciso levantar do sofá e mexer o corpo — três vezes por semana, durante 20 minutos, no mínimo! “Os exercícios aeróbicos dilatam as artérias e, de quebra, induzem a produção de substâncias relaxantes pelo cérebro, as endorfinas.” Ou seja, espantam o estresse e facilitam o trânsito do sangue. O último conselho é relaxar. “Aposte na ioga ou na meditação, que, comprovadamente, ajudam a baixar o nervosismo”, garante Malachias. Em resumo, a orientação é simples: investir em qualidade de vida. Assim, é muito provável que você espante de vez a ameaça de hipertensão sem remédios. Vale a pena, não vale?
Fonte: Revista Saúde
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