Depois de 50 anos na companhia do cigarro, o presidente Lula afirmou nesta terça-feira que há 40 dias deixou o fumo de lado. Ele declarou que não tem sido fácil ficar sem as tragadas mas, se fosse do sexo feminino, a autoridade máxima do Brasil poderia ter ainda mais dificuldade de largar o vício. Influência dos hormônios, da rotina e até mesmo da pressão pelo corpo magro, as mulheres demoram mais para conseguir a independência do tabagismo, já atestaram pesquisas. Uma delas, feita pelo Centro de Referência e Tratamento do Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) constatou que apesar de elas serem maioria entre os que buscam tratamento para abandonar o vício, as mulheres também têm mais dificuldade do que os homens em ficar abstêmias.
O levantamento foi feito com 500 pacientes que buscaram ajuda médica no Cratod. Do total, 63% eram mulheres. Por outro lado, enquanto 47% dos o pacientes do sexo masculino já haviam conseguido ficar longos períodos sem fumar (mais de um ano), entre elas, esta taxa recuou para 34%. A diretora do Cratod, Luizemir Lago, já afirmou que o cigarro tem representações diferentes para os homens e mulheres. Esta representação, inclusive, acaba de ser mapeada por estudo de caso publicado na edição de dezembro do Caderno Brasileiro de Saúde Pública. Em um serviço público do Rio de Janeiro, as pesquisadoras Márcia Broges e Regina Simões Barbosa investigaram quais os significados simbólicos do cigarro para mulheres que estavam tentando parar de fumar. Confirmaram o que a literatura já alertava: elas, diferentemente dos homens, sempre associam o início do fumo a algum episódio marcante (fim de namoro, morte, desentendimento), o que dificultaria o abandono do hábito. Além disso, o discurso das 14 fumantes acompanhadas relacionava o cigarro a “um companheiro”, presente nos momentos de dificuldades no trabalho e na vida pessoal. Além da relação de companhia com o cigarro, as mulheres sofrem mais de transtornos depressivos do que os homens (relação de dois casos femininos para cada um masculino, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria). Essas manifestações podem dificultar o fim “parceria” com o tabaco, que tanto prejudica a saúde e o bem-estar da mulher.
Os especialistas reforçam que as dificuldades em parar de fumar não devem ser empecilho. O organismo feminino paga um preço alto por causa do fumo. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), uma das evidências dos prejuízos são os casos de câncer de pulmão. Na década de 40, este tipo de tumor maligno era incomum entre as mulheres. Já no último balanço, divulgado este ano, está em terceiro lugar no ranking de incidência, só atrás do câncer de mama e colo de útero. Estudos já constataram que 95% dos cânceres de pulmão são desenvolvidos em pacientes com histórico de fumo. O cigarro também é apontado como importante influenciador do câncer de mama em mulheres mais jovens. No Brasil, mesmo em idade fértil – entre 10 e 49 anos – elas já são ameaçadas pela neoplasia das mamas, a 5ª na lista de causas de morte mais frequentes. Apesar da ciência já ter constatado as desvantagens do cigarro companheiro das mulheres, um levantamento feito pela Universidade Federal de São Paulo mostrou que as adolescentes já fumam tanto quanto os meninos. Foram realizadas 3.077 entrevistas no País com pessoas entre 14 e 18 anos. O índice de garotos fumantes foi de 8,6%, só dois pontos porcentuais acima do que o encontrado entre elas (6,7%). Na população como um todo, este mesmo índice mostra uma diferença de 10 pontos: 25% entre eles e 14% entre elas.
Fernanda Aranda, iG São Paulo
Fernanda Aranda, iG São Paulo
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