A melhora dos dados sobre Aids e a maior expectativa de vida para quem tem a doença prejudica o trabalho de prevenção, na avaliação de entidades e especialistas que atuam com prevenção e tratamento dos pacientes com HIV. Para os especialistas no assunto, o mais importante para combater a doença - nesta terça-feira (1º) é comemorado o Dia Mundial de Luta contra a Aids - é manter o trabalho de prevenção. Duas pesquisas apresentadas nesta semana trouxeram dados positivos. Dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) mostraram que entre 2000 e 2008, o número de novas infecções caiu 17%. Segundo o órgão, as pessoas com Aids estão vivendo mais e cada vez menos gente adquire o vírus. Outro levantamento, o Boletim Epidemiológico Aids/DST 2009, do Ministério da Saúde, mostrou que o número de casos caiu nos grandes centros urbanos - embora tenha ocorrido um crescimento nas cidades pequenas.
Para a coordenadora de projetos da Sociedade Viva Cazuza, Christina Moreira, os jovens são os mais vulneráveis a novas infecções, mas descuidam da prevenção.
"Diariamente jovens iniciam sua vida sexual e muitos deles sem qualquer cuidado com prevenção de DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e Aids. Isso faz com que venham a ser mais vulneráveis para os novos casos de infecção. (...) Eles não viram o estrago que a Aids fez nos anos 80 e 90. Acham que a Aids é um problema resolvido, solucionado, e se forem contaminados, é só tomar um remedinho".
"Diariamente jovens iniciam sua vida sexual e muitos deles sem qualquer cuidado com prevenção de DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e Aids. Isso faz com que venham a ser mais vulneráveis para os novos casos de infecção. (...) Eles não viram o estrago que a Aids fez nos anos 80 e 90. Acham que a Aids é um problema resolvido, solucionado, e se forem contaminados, é só tomar um remedinho".
Coordenadora da área de prevenção da Associação para Prevenção e Tratamento da Aids (APTA) - entidade com apoio da Unesco, Terezinha Pinto concorda e avalia que no Brasil há um "cansaço" do uso do preservativo por parte dos jovens. "A impressão que se tem é que essa geração que não viu o boom da Aids banalizou essa questão. (...) Não se tem a ideia do que significa o tratamento." Christina Moreira, da Viva Cazuza, diz que a prevenção "já vem sendo colocada em segundo plano" pelas autoridades. "O Brasil fez uma opção de trabalhar na assistência ao portador do vírus da Aids. A medicação é gratuita para todos os pacientes e isso tem um custo monumental. A prevenção é sempre mais barata."
Para Terezinha, da Apta, é preciso atuar a longo prazo para que os índices não voltem a piorar: "Acho que não tem outra saída a não ser o trabalho a longo prazo, que trabalhe desde a educação infantil." O diretor adjunto do Departamento de DST Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Eduardo Barbosa, diz que a melhora dos dados é, na realidade, uma "estabilidade em patamares altos". Para ele, não há negligência nos serviços de prevenção. "O menor número de óbitos, ao contrário do que se pensa, não acarreta na negligência. Os dados apontam para o reforço da prevenção nos locais onde houve redução dos casos".
Barbosa diz que as mulheres jovens na faixa nos 13 aos 19 anos e jovens homossexuais e bissexuais são os mais vulneráveis. "A gente tem feito um trabalho grande de prevenção nas escolas, principalmente entre jovens do sexo masculino entre 13 e 24 anos, onde há uma tendência de aumento da epidemia. A maioria ainda vive sob uma máscara. Há um medo de revelar a sexualidade porque o contexto da escola ainda é homofóbico e isso prejudica os jovens". Para o diretor, o maior desafio em relação a Aids é vencer o preconceito contra os pacientes com a doença. "O maior desafio é fazer com que pessoas que vivem com HIV, Aids, estejam livre de preconceito e discriminação. Isso interfere tanto nas questões da prevenção, quanto na assistência. A segregação prejudica a ida das pessoas em vulnerabilidade para fazer teste".
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