"Quereis ser médico, meu filho? Esta é a aspiração de uma alma generosa, de um espírito ávido de ciência.
Tens pensado bem no que há de ser a tua vida?"

- Esculápio -

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Santa Catarina é o maior consumidor de sibutramina no país

Santa Catarina é o maior consumidor nacional de sibutramina, substância usada em medicamentos para emagrecer e que passou a ter um controle mais rígido desde terça-feira. Especialistas dizem que há duas hipóteses para justificar os dados divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa ): ou os catarinenses são muito preocupados com a imagem ou há um abuso na prescrição do remédio. As informações, relativas a 2009, são do primeiro relatório do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC). Além da sibutramina, Santa Catarina está entre os que mais consomem anfepramona, femproporex e mazindol — anfetaminas usadas para emagrecer. Os dados são altos também porque há no Estado muitas farmácias e drogarias cadastradas no SNGPC. Com 73,8% de participação, é o quinto colocado. Com 77%, o Rio Grande do Sul é o primeiro. Mesmo assim, os vizinhos gaúchos só ficam na frente no consumo de mazindol. O estudo sugere um abuso na hora de prescrever a medicação. Entre os 10 médicos que mais receitam sibutramina, por exemplo, está um especialista em tráfego.
— O médico do tráfego avalia as condições dos paciente que vão tentar uma carteira de motorista. Embora não seja proibido, não é coerente que um médico prescreva um medicamento que não está diretamente relacionado ao seu campo de atuação — explicou a farmacêutica Márcia Gonçalves, coordenadora do SNGPC.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) em Santa Catarina, Alexandre Hohl, o Estado não tem grandes problemas com a prescrição:
— Temos uma medicina consciente. Há um caso ou outro de maus prescritores. A maioria prescreve muito bem, até de outras especialidades.
Outra hipótese para o alto consumo do medicamento pode estar associada ao cuidado do catarinense com a imagem. Na Clínica Biocentro, em Florianópolis, cerca de 400 clientes procuram, todo mês, o endocrinologista Rodrigo Caldeira de Andrada Costa. O especialista calcula que de 30% a 35% estão interessados em emagrecer.
— Não sei por quê Santa Catarina tem alto uso de medicamentos para emagrecer. Talvez porque a população esteja mais preocupada com a estética ou por ter um poder aquisitivo maior para fazer este tipo de tratamento — opina.
A diretora Estadual de Vigilância Sanitária Raquel Bittencourt solicitou informações sobre quais os médicos, farmácias, drogarias e municípios que mais prescrevem o medicamento para planejar uma fiscalização. Os dados serão recebidos na semana que vem. Ela concorda com o endocrinologista Costa e acha que há uma relação entre o número de prescrições e a preocupação com a imagem.
— Há muita prescrição do medicamento porque as pessoas estão muito preocupadas com a imagem.
A diretora lembra de um estudo para mostrar essa visão. Há quatro anos, uma pesquisa realizada em Florianópolis mostrou que quem menos receitava remédios para emagrecer eram os endocrinologistas, justamente o especialista no assunto.
Vai ficar mais difícil comprar os medicamentos que contêm sibutramina. Uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na terça-feira muda a tarja do medicamento de vermelha para preta. Eles eram vendidos com receita branca (de controle simples - C1) e, agora, passam a ser comercializado com a receita azul (de controle especial - B2). A decisão foi tomada pouco mais de dois meses depois de a Europa suspender a venda da substância, com base em um estudo que ligou o remédio ao maior risco cardíaco em pessoas propensas. As empresas detentoras de registro do medicamento terão um prazo de 180 dias para mudar as bulas e as embalagens.
Reportagem: Maurício Frighetto - Diário Catarinense

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