Mulheres fumantes têm um risco maior de sofrer de Transtorno Mental Comum (TMC), em relação às não fumantes, assim como mulheres que não fumam que sofrem de TMC também têm mais chances de adquirir o hábito de fumar. O TMC é um transtorno causado por uma ruptura do funcionamento normal das funções neurológicas, tendo como sintomas, por exemplo, o esquecimento e a dificuldade de concentração. Mas no caso do universo masculino, não é possível encontrar essa associação entre Tabagismo e TMC. Segundo a psicóloga e mestre em Saúde Pública Danuta Medeiros, que estudou o assunto em sua pesquisa de mestrado, perceber essa “singularidade de gênero” é um grande passo para que programas de cessação do tabagismo sejam melhor sucedidos.
— Já que temos a constatação dessa diferença, podemos pensar em fazer as campanhas de maneira mais direcionada, clara, e efetiva — afirma a pesquisadora.
Em seu estudo chamado Tabagismo e Transtorno Mental Comum na população de São Paulo – SP: um estudo a partir do Inquérito de saúde no município de São Paulo (ISA-CAPITAL), realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e orientado pelo professor Chester Luiz Galvão César, Danuta aponta que, apenas tratando-se das mulheres é possível relacionar o Tabagismo ao TMC. Segundo o trabalho, os sintomas do TMC são muito parecidos com os da abstinência ao cigarro de nicotina.
— O TMC é um transtorno mental de difícil diagnóstico, uma vez que apresenta sintomas corriqueiros, que passam despercebidos no dia a dia. Por conta disso, os sintomas do TMC podem até ser confundidos com os sintomas causados pela abstinência do fumo em tabagistas. Irritabilidade, ansiedade, insônia, e queixas de dor de cabeça, são alguns deles — explica Danuta.
Essas constatações foram obtidas por meio da análise de cerca de 3.350 entrevistas, com homens e mulheres de 16 anos ou mais, contidas no Inquérito de Saúde do Município de São Paulo realizado em 2003, chamado ISA-CAPITAL 2003, que envolve uma avaliação feita por profissionais de saúde baseada nas respostas das pessoas a um questionário domiciliar. De acordo com o trabalho, somente após a década de 1960 as pesquisas relacionadas ao tema ‘tabagismo’ começaram a associá-lo a outras doenças, principalmente por causa do “império da publicidade do Tabaco”, que perdurou até além dessa época. Os estudos da psicóloga relevam a importância dessa visão ‘pós anos 1960’, alertando para um cuidado ainda maior nos diagnósticos.
— Muitas vezes os sintomas do TMC ou do tabagismo são vistos como “frescura” pelo senso comum, não sendo devidamente tratados — aponta Danuta.
Tratando-se do universo masculino, a psicóloga não encontrou pontos de associação entre o tabagismo e o TMC. A autora explica, por exemplo, que o homem geralmente começa a fumar por outras questões não tão relacionadas com seu perfil emocional, diferentemente das mulheres.
— A faixa etária e a não prática de atividades físicas foram fatores que aparecem para os homens como associados ao Tabagismo. Por exemplo, até os 60 anos, com o aumento da idade, há maiores tendências de os homens começarem a fumar — exemplifica a pesquisadora.
Enquanto isso, aquela velha história “fumo para acalmar” apresentou-se como um dos principais fatores que fazem com que as mulheres se tornem fumantes, ou seja, “intimamente ligados com a depressão ou a ansiedade, o que podem ser também sintomas de TMC”, como revela o estudo. A partir dessa percepção, a psicóloga destaca o quanto é importante conhecer o perfil psicológico de uma pessoa que deseja parar de fumar, antes de diagnosticá-la e tratá-la.
— A presença dos psicólogos é crucial, principalmente no momento da busca e encaminhamento por e para um tratamento. Eles podem auxiliar os outros profissionais da saúde no reconhecimento não apenas da causa do tabagismo, como da dificuldade da pessoa em abandonar o fumo — afirma Danuta.
O estudo aponta que há maior prevalência do tabagismo em homens, e isso está relacionado à própria história do consumo cigarro de nicotina, que intensificou-se nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial. Além disso, Danuta constatou que a religião também é um fator que pode influenciar no consumo. A pesquisa revela, por exemplo, que das religiões mais conhecidas e seguidas no Brasil, no meio evangélico há a menor prevalência de tabagistas e a maior prevalência de pessoas que nunca experimentaram o cigarro. Isso mostra que pessoas que têm algum tipo de religião e seguem suas normas, geralmente fumam menos.
A pesquisa mostrou também que, com relação ao TMC, as mulheres são as que mais apresentam o transtorno, “provavelmente por serem mais queixosas ou ainda darem maior atenção a sua saúde mental”, sugere Danuta. Além disso, outra conclusão das análises é que a escolaridade pode diminuir a chance de TMC, assim como a prática de atividades físicas. A psicóloga afirma ainda que o alcoolismo também pode ter uma preocupante relação com o transtorno.
Fonte: Agência USP de notícias
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