O cerco aos fumantes pode ficar ainda mais intenso no Brasil. Depois da Lei Antifumo — que entrou em vigor em agosto de 2009, em São Paulo, e foi posteriormente adotada em outros estados proibindo o fumo em lugares fechados —, uma nova medida tenta aumentar o controle sobre o tabagismo. A 4ª Conferência das Partes (COP4) da Convenção para Controle do Tabaco, organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que teve início nesta segunda-feira e vai até sábado, em Punta del Leste, no Uruguai, traz como um dos destaques de sua agenda uma discussão que vem tirando o sono — e ameaçando o bolso — de produtores de tabaco e cigarreiras: a retirada de aditivos, principalmente o açúcar e a amônia, da lista de componentes do cigarro.
Maior exportador de tabaco do mundo, o Brasil envia para o exterior cerca de 675 toneladas de fumo por ano — a produção nacional fica atrás apenas da chinesa, com 779 toneladas. Desse montante, 15% são de tabaco tipo burley, uma qualidade do fumo mais amarga que precisa da adição de até 10% de açúcar para se tornar palatável ao consumidor. “Isso é feito com os olhos voltados ao público jovem, que começa a fumar cada vez mais cedo porque o cigarro vem se tornando mais gostoso”, diz Sérgio Ricardo Santos, coordenador da Comissão de Tabagismo e do Núcleo de Apoio à Prevenção e Cessação do Tabagismo, da Universidade Federal Paulista (Unifesp).
E é esse vício cada vez mais precoce que acabou servindo como alerta à classe médica. Segundo Tânia Cavalcanti, secretária executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro, que representa o Brasil no encontro, o tabagismo se tornou uma doença pediátrica, já que os jovens estão começado a fumar perto dos 15 anos. Uma pesquisa de 2004 realizada nos Estados Unidos deixou claro isso: a penetração dos cigarros aromatizados entre adultos com 25 anos ou mais era de 6,7%, mas saltava para 22,8% entre os fumantes de 17 anos. “No Brasil, são 200.000 mortes causadas pelo fumo por ano. Quantos jovens não estão entrando cada vez mais cedo nesse vício?”, questiona Tânia. Há ainda um agravante. Quando o açúcar participa da queima do cigarro, ele se transforma em um composto chamado acetaldeído, que causa a degeneração dos neurônios e câncer.
O segundo aditivo na mira da Convenção, a amônia, pode potencializar em até cem vezes os efeitos viciantes da nicotina no organismo. “Esse produto é usado com o único objetivo de deixar o consumidor viciado o mais cedo possível”, diz o pneumologista Sérgio Ricardo Santos. Com a eventual retirada desses componentes da formulação do cigarro, espera-se que o produto se torne menos atrativo ao jovem e que haja uma diminuição nos danos causados à saúde do fumante.
Fonte: VEJA Saúde
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