Depois da extrema organização e respeito com que fomos recebidos no quartel, chega a ser assustadora a forma amadora que nos receberam no município de Curionópolis. Se você das regiões mais ao sul do país acha que já viu de tudo no trabalho público e costuma reclamar dos serviços prestados, precisa dar uma passadinha no Pará e verificar, in loco, o que é serviço público daqueles de caricatura, de piadinhas sobre o assunto.
O compromisso entre a prefeitura e o Ministério da Defesa foi firmado há sete meses, em julho. A viagem precursora, com escolha dos locais de alojamento, alimentação e atividades, ocorreu em novembro, quando foi assinado um termo de compromisso entre o prefeito e a coordenação geral do Projeto Rondon. Desde esta data sabia-se, no município, que chegaríamos aqui no dia 16, domingo, e onde ficaríamos alojados.
Doze horas antes da nossa chegada, recebemos um telefonema dizendo que a escola para o alojamento só seria liberada na segunda, se não poderíamos chegar um dia depois - imaginem o transtorno na logística de uma operação com 400 rondonistas em dois estados da Federação. Houve intervenção da coordenação e nos receberam no dia certo, mas em outra escola. Não havia previsão de comida; por eles, passaríamos dois dias sem comer, até que a compra emergencial fosse aprovada pelo prefeito - prefeito que assinou o termo que fala sobre alojamento e alimentação em NOVEMBRO.
Na escola, outro transtorno. Malas, pacotes, caixas com material para quinze dias de oficinas, tudo descarregado em um local para ser novamente carregado no dia seguinte para o alojamento definitivo. Só havia dois vasos sanitários - um entupido - e um chuveiro (frio) para todos - 14 garotas e 7 rapazes. Após mais uma interferência do comando geral, recebemos marmitas compradas pelo prefeito, em quatro refeições seguidas, de uma qualidade aqui indescritível, sob pena de ferir olhos e ouvidos mais sensíveis. Entre domingo e segunda também passamos sem café da manhã.
Em todos os momentos de refeições, até ontem a noite - foram oito, precisei pessoalmente verificar que não tinha nada feito, e chamar os responsáveis do poder público para resolver, caso contrário não haveria comida aos rondonistas. O capitão Carlos Henrique, do 52 BIS, veio de Marabá a Curionópolis ontem pela manhã para resolver o assunto pessoalmente, mas já em seguida verifiquei que nenhuma merendeira havia preparado nada para o jantar. Deixei de acompanhar até agora qualquer atividade acadêmica para virar um gestor da equipe. Ressalte-se que este trabalho, pelo termo de cooperação, é exclusivamente da prefeitura municipal, e não de qualquer membro da equipe Rondon.
De qualquer maneira, como nem tudo são nuvens, ressalto que os garotos estão muito empolgados, o trabalho já se desenrola desde o momento da nossa chegada e ambos os eixos - A, da Univali e B, da FUMEC/Minas Gerais - estão bem integrados entre si no desenvolvimento dos projetos. Ontem mesmo já realizaram-se as primeiras oficinas e visitas de diagnóstico, que terão continuidade pelos próximos 10 dias, tanto no município-sede quanto em Serra Pelada.
Cinco rondonistas já passaram mal e ficaram baixados momentaneamente no alojamento, acredita-se que por uma conjunção de calor, água e a indescritível marmita. Graças aos cuidados e apoio dos colegas, todos já estão razoavelmente recuperados. Rondon também é isso, superação nas adversidades. Espero posts mais otimistas daqui pra frente.
SELVA!
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